segunda-feira, 18 de julho de 2011

Quase todos os animais são transferidos do zoológico de Niterói

A semana foi triste para o Zoonit. Apesar de a diretora Giselda Candiotto pedir ajuda a autoridades, não foi possível impedir a transferência de várias espécies pelo Ibama


A semana foi triste para o Zoológico de Niterói (Zoonit). Apesar de a diretora Giselda Candiotto pedir ajuda a autoridades, como a ministra do Meio Ambiente, Izabella Teixeira, e políticos como o deputado federal Chico D’Ângelo (PT) e os vereadores de Niterói ao longo da semana e nas anteriores, não conseguiu impedir a transferência dos animais da instituição pelo Instituto Brasileiro de Meio Ambiente (Ibama). Na última quinta-feira, foram retirados do local o chimpanzé Jimmy, o leão Sansão e mais 32 macacos pregos. Ficaram ainda o leão Dengo, filho de Sansão, e mais alguns outros pequenos animais, que logo também serão retirados.


Para piorar, o zoo será investigado pelo suposto sumiço de animais. De acordo com o superintendente do Ibama no Rio, Adilson Gil, teriam desaparecido do local 490 pássaros que tinham sido apreendidos pela Polícia Federal e encaminhados ao espaço. Se for constatado o delito, os responsáveis podem ser multados em até R$ 1.032.500.
“Desses 490 pássaros, 175 estão ameaçados de extinção. De acordo com o livro de registro apenas uma pessoa levou quase 200 animais.
A semana começou com a decisão de Candiotto de deixar a direção do Zoonit, no último dia 9, que foi tomada de comum acordo com os vereadores Leonardo Giordano, Vítor Júnior (ambos do PT); José Antônio Fernandez (PDT); e o vice-presidente da Câmara Municipal, Carlos Alberto Magaldi (PP), em reunião na Superintendência do Ibama, durante negociações para salvar o espaço. O novo diretor será o ex-presidente da Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL) de Niterói, Joaquim Pinto.
Na reunião, os vereadores apresentaram propostas de readequação do espaço dentro das normas federais a Adilson Gil, como a criação de uma Comissão de Intervenção no Zoonit, para que sejam avaliadas as melhorias técnicas para a permanência dos animais, de captação de recursos financeiros e um novo corpo administrativo.
“Vamos intervir pela continuidade do Zoonit, no que diz respeito à modernização e à adequação técnica, com os mecanismos que possam preservar o espaço. Queremos o apoio do Ibama, da Prefeitura e de toda a sociedade civil”, afirmou, na ocasião, Vítor Júnior.
Comissão reúne diversos setores
Farão parte da comissão, além dos vereadores, representantes do setor naval (interagindo na questão da responsabilidade social), do meio ambiente, empresários da cidade e da CDL, que presidirá o grupo. Por estar muito desgastada com o Ibama, Giselda pediu para deixar a presidência do Zoonit, mas vai continuar como uma das colaboradoras da unidade.
Joaquim Pinto contou que já conhece boa parte das atividades do zoo, uma vez que a CDL era uma das parceiras do espaço.
“O convite veio da própria Giselda, por ela acreditar que com uma boa administração na CDL, poderemos reerguer o zoo. Vamos fazer um levantamento de tudo o que o local precisa, para que, então, possamos ter uma ideia mais concreta de uma estimativa orçamentaria e do prazo que teremos para a readequação do Zoonit”, comentou o empresário, acrescentando que uma de suas primeiras providências, após a reforma do espaço, será trazer de volta Jimmy e Dengo, que são os “cartões-postais carismáticos” do local.
Uma emenda orçamentária com valor inicial de R$ 200 mil está sendo proposta na Câmara dos Deputados por Chico D’Ângelo para ser aplicado do zoo.
Tudo caminhava até então para que o local continuasse aberto. Porém, no dia seguinte, o Ibama resolveu retirar todos os animais e fechar o local, pelo menos até o final da reforma. Isso, devido a uma medida cautelar movida pelo Zoonit contra o próprio Ibama. A 3ª Vara Federal de Justiça julgou o pedido improcedente e intimou o Ibama a retirar todos os animais do local em um prazo de até 48 horas.
Em reunião de Vítor Júnior, José Antônio Fernandez e Joaquim Pinto com o prefeito Jorge Roberto Silveira na última quarta-feira, o chefe do Executivo disponibilizou dois engenheiros para desenvolver um projeto de reestruturação do zoológico com acompanhamento de orientações de técnicos do Ibama.
Adilson Gil informou no mesmo dia que existe a hipótese de um novo zoológico voltar a funcionar dentro de seis meses. Há ainda possibilidade de os animais retirados retornarem um dia.
Uma trajetória especial
Em busca de um espaço do estudo da vida animal o então governador do Estado, em 1942, Ernani do Amaral Peixoto, resolveu criar uma expansão do Horto Botânico de Niterói, na Alameda São Boaventura, no Fonseca. Reuniu algumas espécies de animais e iniciou um longo trabalho, que resultou na criação do Jardim Zoológico de Niterói.
Ocupando um espaço de aproximadamente 10 mil metros quadrados no bairro do Fonseca, o local chegou a abrigar, até o ano passado, cerca de 500 animais e ainda fazia um trabalho de reabilitação. Para lá eram encaminhados animais encontrados nas ruas ou resgatados em apreensões policiais, que depois eram tratados e devolvidos para seus habitats.
O Zoonit é uma entidade sem fins lucrativos, de utilidade pública Estadual e Municipal, registrada na Curadoria de Fundações do Ministério Público Estadual e sua única verba mensal eram os R$ 25 mil vindos da Prefeitura de Niterói. O gasto com a comida dos animais era de R$ 12 mil e com remédios era de R$ 5 mil. Mas, para pagar sete funcionários e um veterinário, sobravam R$ 8 mil. Porém, a folha de pagamentos precisava de R$ 11 mil. Os empregados eram ao todo 14, mas apenas oito eram bancados pela Fundação Zoonit, os outros eram remunerados pela Prefeitura.
Em um sábado de carnaval do ano de 1989, Giselda Candiotto foi conhecer o local. A defensora dos animais soube através de uma matéria de O FLUMINENSE, que os bichos estariam morrendo de fome. Sensibilizada, a terapeuta corporal decidiu conhecer o horto onde apenas dois presidiários em liberdade condicional cuidavam dos animais. Unindo forças, os três tomaram a iniciativa de cuidar do lugar, que depois se tornou uma referência nacional em reabilitação de animais.
Em 1991, a presidente do Zoonit não tinha mais condições de sustentar o espaço. Após a morte de um peixe-elétrico, causada por visitantes e devido à pouca verba, Giselda resolveu cercar o local e cobrar ingressos. O governo não aprovou a iniciativa, mas Giselda lutou junto à Prefeitura para que o local pudesse ser uma fundação para fins educativos.
Mas o Zoonit continuou a passar por problemas. Em 1997, Giselda apresentou uma proposta ao Governo do Estado que propunha que os animais do Zoonit fossem transferidos para um espaço do Horto, conhecido como “lago azul”. Porém, não conseguiu.